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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Comunicada do IPEA mostra investimentos públicos no Brasil


29/12/2011 13:24
Investimentos públicos representam 2,5% do PIB
Comunicado nº 126, divulgado nesta quinta, analisa o comportamento dos investimentos públicos desde 1995

A taxa de investimento das administrações públicas – governos federal, estadual e municipal – evoluiu de seu patamar mais baixo do período pós-real, 1,5% do PIB, registrado em 2003, para o recorde de 2,9%, resultado de 2010. Atualmente, segundo projeções preliminares, esse índice está próximo a 2,5%.

O cálculo, feito pela Coordenação de Finanças Públicas da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas (CFP/DIMAC) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foi apresentado nesta quinta-feira, 29, durante a coletiva pública doComunicado do Ipea nº 126 – Como anda o investimento público no Brasil?, que contou com a participação do coordenador da CFP, Claudio Hamilton, e da chefe da Assessoria Técnica da Presidência do Ipea, Luciana Acioly.

A partir de 2004, o PIB cresceu muito, e os investimentos públicos evoluíram mais rapidamente que no período anterior, de 1995 a 2003, em que a taxa estava em queda devido, entre outros fatores, ao forte arrocho fiscal promovido no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Os investimentos feitos pela União estão em constante crescimento. Em contrapartida, há um decréscimo dos investimentos feitos pelos governos estadual e municipal. “Isso faz com que a União esteja participando das administrações públicas gerais de forma mais expressiva”, disse Hamilton.

O coordenador apontou que as oscilações se dão porque os investimentos aumentam muito em anos eleitorais e caem bastante em anos pós-eleitorais. “Os gastos aumentam no último ano, e a nova administração encontra contas estouradas, o que exige corte de gastos e de investimentos”, completou.

Em 2011, os indícios de queda na taxa são atribuídos, basicamente, à contenção de gastos frente à crise econômica mundial, e o que “contribui na mesma direção é a prioridade orçamentária dada ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, afirmou o coordenador de Finanças Públicas.

Limitações

Hamilton salientou algumas dificuldades para se mensurar os valores obtidos. Segundo ele, restos a pagar não processados dificultam apuração das contas nacionais, em administrações estaduais e municipais, pois são empenhados débitos orçados em gestões anteriores. Outro fator é a defasagem temporal da publicização da formação bruta de capital fixo (FBCF). O índice referente aos anos de 2007, 2008 e 2009 foi divulgado em novembro deste ano. Os dados de 2010, de acordo com o coordenador, “na melhor das hipóteses, serão divulgados em 2012”.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Projetos a serem votados na Câmara após recesso


26/12/2011 - 12h53

Marcos Chagas e Priscilla Mazenotti
Da Agência Brasil, em Brasilia

O primeiro projeto previsto para votação na Câmara depois do recesso parlamentar será o que cria o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp). A proposta deverá ser analisada ainda em fevereiro, quando os deputados voltam do recesso.

O Funpresp estabelece novas regras para as aposentadorias dos servidores. O valor máximo será o teto pago pela Previdência Social aos trabalhadores celetistas, que hoje é R$ 3,6 mil. Para ter direito a um benefício maior, o servidor deverá aderir ao fundo. As novas regras, no entanto, só serão válidas para aqueles que ingressarem no serviço público depois da sanção e entrada em vigor da nova lei.

O novo Código Florestal também é considerado prioridade entre as votações no Congresso. A Câmara aprovou em maio o texto-base do novo Código, que regulamenta as áreas de proteção e preservação ambiental, impõe deveres aos produtores rurais em relação às áreas de mata das propriedades e define punições para os desmatadores. Como o projeto sofreu alterações no Senado, retornou à Câmara para apreciação final.

“É um assunto que vai render muito e que deveria ter sido aprovado ainda em 2011 pelo Congresso”, disse o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

O senador avalia que outra proposta já apreciada pelo Senado e que aguarda conclusão da votação pelos deputados é a que trata da distribuição dos royalties da exploração do petróleo da camada pré-sal. “Isso vai dar muito problema”, disse.

A matéria aprovada pela Câmara previa a distribuição dos recursos entre estados e municípios produtores e não produtores com base nos fundos de Participação dos Estados (FPE) e Municípios (FPM). Com a nova distribuição, estados produtores, como o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, perderiam recursos. O Senado alterou a matéria e, por isso, o texto retornou para apreciação da Câmara.

Valdir Raupp alega, entretanto, que, em ano eleitoral, “é inviável” aprovar esse tipo de matéria. “Esse impasse causado pelo Rio de Janeiro e Espírito Santo foi pior para eles, que deveriam ter aprovado logo a distribuição proposta inicialmente”, completou.

O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) disse à "Agência Brasil" que as definições dos novos critérios de distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) deverão tomar conta dos debates no primeiro semestre de 2012.

O presidente do Democratas, senador José Agripino (RN), destacou que os trabalhos legislativos em qualquer ano eleitoral fatalmente ficam prejudicados. “Todo ano eleitoral compromete [as votações]. Quem diz que não compromete, desconhece o passado. Mas o que tiver de ser votado, nós votaremos”, comentou.

No Senado, um dos projetos que deverão ter votação polêmica, apesar de ainda estar tramitando em comissão temática, trata das concessões de exploração de energia elétrica que vencem em 2015.

“Os concessionários querem uma renovação automática e a lei em vigor prevê novas licitações, mas deixa brecha para essas renovações”, explicou Raupp. Ele admite que deputados e senadores serão pressionados pelas atuais concessionárias e o desafio é votar uma renovação que inclua o compromisso de redução no preço da tarifa de energia elétrica.

Outra proposta que deve enfrentar embates em plenário é a votação de matérias relativas à reforma tributária. Segundo Raupp, não existe um entendimento com governadores, o que dificulta a apreciação desses projetos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sistema de Indicadores de Engenharia

20/12/2011 - 10h42

USP lança Sistema de Indicadores de Engenharia

Agência Fapesp


O Observatório de Inovação e Competitividade (OIC), vinculado ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), lançou o Sistema de Indicadores de Engenharia.
O EngenhariaData pode ser acessado pela internet e tem como objetivo fornecer a pesquisadores, gestores públicos, empresas e instituições de ciência, tecnologia e inovação dados sobre a formação e o mercado de trabalho em engenharia, visando subsidiar as atividades de planejamento e gestão de políticas públicas destinadas ao aumento das atividades de inovação, com vistas a ampliar a competitividade do Brasil.
“Queremos ajudar a dar um pouco de racionalidade ao debate atual sobre escassez de engenheiros, ofertar mais dados. A engenharia vive um momento interessante, ganhou status de discussão pública”, disse Mario Salerno, professor titular do Departamento de Engenharia de Produção da USP, que também é coordenador do OIC e do projeto do EngenhariaData.
O EngenhariaData tem cinco classes de indicadores: Formação; Mercado de Trabalho; Produção Científica; Pesquisa e Desenvolvimento; Empresas de Serviços de Engenharia.
O projeto também conta com 150 séries disponíveis para download e cinco serviços: Indicadores, Engenharia em Debate, Estudos OIC, Biblioteca e Eventos.
De acordo com os pesquisadores do OIC, a partir das primeiras análises dos dados houve um aumento de 91% no número de formados no ensino superior por 10 mil habitantes nos últimos dez anos.
O ensino de engenharia seguiu as mesmas tendências dos demais cursos superiores no que se refere a número de matrículas, concluintes e evasão, contrariando a ideia geral de que muitos estudantes de engenharia abandonam o curso.
O número de concluintes dobrou em 10 anos, e a ociosidade de vagas ocorre mais na rede privada de ensino superior. Segundo a análise, a indústria de transformação estaria impulsionando o crescimento de vagas na área. No entanto, os salários dos engenheiros cresceram pouco entre 2000 e 2009.
De acordo com os criadores do projeto, ao longo de 2012 serão feitas ampliações e melhorias no sistema. Além das informações estatísticas sobre a engenharia no país e no mundo, o sistema do OIC hospedará documentos, tais como análises sobre as séries levantadas e comparações internacionais, produzidos por seus pesquisadores e por outros que tenham escrito sobre o assunto e autorizem a divulgação.
Mais informações: http://engenhariadata.com.br

Aprovado Plano Plurianual (PPA) do Brasil para o período 2012-2015

Congresso aprova PPA 2012-2015
O Congresso Nacional (Câmara e Senado) aprovou ontem (20/12/11), em votação simbólica, o Plano Plurianual (PPA) para o período 2012-2015. O PPA prevê investimentos de R$ 5,4 trilhões para os próximos quatro anos. No plano aprovado pelos deputados e senadores estão as prioridades do restante do mandato da presidente Dilma Rousseff como, também, do primeiro ano de governo do presidente da República a ser eleito em 2014.
O PPA apresenta, de forma detalhada, as principais ações que serão executadas nos próximos quatro anos. As prioritárias integram oPrograma de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano Brasil Sem Miséria
Também estão previstas no PPA 2012-2015 a construção de 2 milhões de moradias do Programa Minha Casa, Minha Vida; a inclusão de 495 mil domicílios rurais no Programa Luz para Todos; a construção, recuperação e manutenção de 14,7 mil quilômetros (km) de rodovias e 4,5 mil km de ferrovias; e a expansão da rede de banda larga (com acesso à internet rápida) para mais de 40 milhões de usuários, entre outras ações.
FONTE:
Iolando Lourenço - Repórter
Vinicius Doria - Edição

Links referenciados
www.brasil.gov.br/pac
www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/secretaria-de-habitacao/programas-e-acoes/mcmv/minha-casa-minha-vida
www.brasilsemmiseria.gov.br
luzparatodos.mme.gov.br
www.agenciabrasil.gov.br

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ONU diz que principal desafio do milênio é garantir a segurança alimentar no Planeta

 19 DE DEZEMBRO DE 2011 - 15H11 

ONU: os principais desafios do milênio

De todos os desafios de nosso tempo, garantir a segurança alimentar é primordial, afirma o presidente da Assembleia Geral da ONU, Nassir Abdulaziz Al-Nasser no artigo a seguir
A experiência mostra que a cooperação Sul-Sul e a triangular, apoiadas por um adequado financiamento, são ferramentas cruciais para dar resposta aos desafios de desenvolvimento de nosso tempo. A cooperação Sul-Sul apenas complementa, não substitui a Norte-Sul. Todas estas associações são pertinentes diante dos desafios da economia global e do desenvolvimento sustentável.
E, de todos os desafios, garantir a segurança alimentar é primordial. Quase 925 milhões de pessoas em todo o mundo vão dormir com fome todas as noites, e a grande maioria está no Sul do planeta. A comunidade internacional foi capaz de reduzir consideravelmente esses números, mas há muito por fazer nos próximos anos. Nossa resolução para observar criticamente as estratégias contra a insegurança alimentar demonstrará nossa solidariedade com essas populações vulneráveis.
As observações da Organização das Nações Unidas (ONU) em matéria de desenvolvimento sustentável, incluindo a mudança climática, a biodiversidade e a desertificação, deixam claro que devemos ser mais vigilantes. Precisamos ampliar a busca de soluções inovadoras e sustentáveis para a insegurança alimentar.
Para isto, podemos compartilhar lições aprendidas e espalhar estratégias e tecnologias de sucesso no Sul para, entre outras coisas:

1. Melhorar a produtividade agrícola;
2. Elevar a proteção social e reforçar a resiliência dos mais vulneráveis;
3. Administrar os ecossistemas frágeis;
4. Melhorar a nutrição;
5. Combater as enfermidades.

Estes enfoques deveriam contribuir para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, cujo prazo terminará em 2015. Também teremos que atender a produção de energias renováveis e modelos de agronegócio que funcionem para colocar alimento suficiente à mesa. Muitos países do Sul tiraram milhões e milhões de pessoas da pobreza extrema e da fome.
Essas nações têm à sua disposição suficientes conhecimento e capacidade técnica que podem ser usados para melhorar intercâmbios Sul-Sul de informação, experiências e técnicas com a visão de elevar a produtividade agrícola e ampliar a distribuição de alimentos para beneficiar mais populações.
Por exemplo, a Aliança Mundial de Terras Áridas – Associados pela Segurança Alimentar busca fortalecer a cooperação entre as nações de territórios secos e desenvolver soluções inovadoras e melhores práticas que possam ser compartilhadas amplamente com países de todo o mundo.
Outro exemplo é o Grande Muro Verde da União Africana, cujo fim é plantar um corredor de árvores através do continente, do Senegal no oeste até Djibuti no leste, para dar respostas simultâneas a problemas ambientais e de pobreza, como degradação e erosão dos solos e avanço da desertificação.
Tais iniciativas foram concebidas para apoiar e complementar esforços a fim de conseguir os ODM, especialmente o primeiro, erradicar a extrema pobreza e a fome, e o sétimo, assegurar a sustentabilidade ambiental.
Com a solidariedade Sul-Sul podemos aprender com os países que estão reformando leis consuetudinárias e práticas para que as mulheres tenham igual acesso à terra e a outros bens produtivos que contribuem para a segurança alimentar. Assim, as mulheres ocuparão o lugar que lhes cabe por direito nas sociedades.
O investimento em pesquisa agrícola é outra área importante da cooperação Sul-Sul, que pode ajudar a financiar melhor os estudos sobre cultivos tropicais dos quais dependem milhões e milhões de pobres.
Os acordos entre instituições agrícolas líderes do Sul global seriam um grande passo adiante no fortalecimento das capacidades nacionais para alimentar seus cidadãos, incrementar sua produção e participar das cadeias de fornecimento agroalimentar criadas para dar resposta à crescente demanda por alimentos de populações em rápido crescimento.
Como presidente da Assembleia Geral da ONU, tenho o compromisso de promover a cooperação Sul-Sul e triangular como uma parte importante de uma unificada associação global. Apenas tal associação, baseada no diálogo aberto e no mútuo entendimento, pode conseguir uma ação coletiva eficaz em um mundo globalizado e interdependente.

* O autor é embaixador do Catar e atual presidente da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Direitos exclusivos IPS.

Fonte: Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.
(Terramérica)

Organização Territorial



Municípios da região do Cariri devem sofrer mudanças territoriais

Centenas de comunidades estão sem a garantia dos direitos fundamentais à saúde, educação, estradas, porque ainda não foi definido a que município pertencem.
Por: Roberta Farias
Vários são os problemas territoriais envolvendo os municípios do Cariri. Juazeiro do Norte tem problemas de divisa com Barbalha, Brejo Santo com Abaiara, Jardim com Jati e Barbalha, Granjeiro com Caririaçu. A Comissão do Projeto de Consolidação dos Limites Intermunicipais do Estado, da Assembleia Legislativa do Ceará, realizou audiência pública em Juazeiro para discutir o que o deputado estadual Neto Nunes (PMDB) considera “problemas gigantescos”.
De acordo com a reportagem da jornalista Mirelly Morais, na edição desta semana do Jornal do Cariri, o parlamentar afirma que centenas de comunidades estão sem a garantia dos direitos fundamentais à saúde, educação, estradas, porque ainda não foi definido a que município pertencem.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Programa Brasil Sem Miséria


16/12/2011 - 13h52

Governo localiza 407 mil famílias em extrema pobreza



Renato Machado

DE BRASÍLIA



O governo federal divulgou na manhã desta sexta-feira (16) o primeiro balanço do programa Brasil Sem Miséria, no qual afirma ter localizado 407 mil famílias em estado de extrema pobreza.

O programa lançado em junho prevê como sua ação central a localização de famílias extremamente pobres, que não conseguem ser atingidas atualmente pelos programas sociais.

Segundo dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são 16 milhões de pessoas nessa situação.

A ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) afirmou que o programa ultrapassou a meta para 2011, que era localizar 320 mil.

"Essas 407 mil famílias não são mais estatísticas. Nós sabemos onde moram, as condições familiares, se tem esgoto, condições que habitam, quantos filhos", disse a ministra durante o ato de assinatura do Pacto Centro-Oeste do Brasil sem Miséria, realizado no Palácio do Planalto.

A meta do governo também prevê localizar 800 mil famílias nessa situação até 2013.
Desse total de famílias, o balanço do programa aponta que 325 mil já estão recebendo os benefícios do Bolsa Família.

A meta do governo também prevê localizar 800 mil famílias nessa situação até 2013. Desse total de famílias, o balanço do programa aponta que 325 mil já estão recebendo os benefícios do Bolsa Família.

Têm direito ao Brasil Sem Miséria famílias com renda inferior a R$ 70. O valor médio pago pelo Bolsa Família está atualmente em R$ 119,83

A presidente Dilma Rousseff também ressaltou que alguns Estados estão integrando seus programas de transferência ao Bolsa Família. Nove Estados já fecharam essa parceria e por isso 3,5 milhões de beneficiários vão receber uma complementação aos valores pagos pelo Bolsa Família.

"Uma das principais realizações do Brasil Sem Miséria é a unificação dos programas de renda estaduais com o de nível federal, dando maior fôlego para a transferência de rendas. Nove Estados atenderam, mas outros virão na sequência", disse a presidente.

O balanço também apontou a inclusão de 1,3 milhão de crianças e adolescentes entre os beneficiários, como a presidente já havia anunciado no mês passado. Isso porque aumentou de três para cinco beneficiários por família para filhos de até 15 anos.

Em uma outra meta do programa, o governo anunciou que 37 mil famílias do campo passaram a receber assistência técnica sobre como produzir melhor. Além disso, 375 toneladas de sementes foram disponibilizadas.

Às críticas que essa era uma das metas que pouco avançou, o ministro Afonso Florence Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) explicou que as sementes são distribuídas de acordo com a época do ano.

"De acordo com o calendário agrícola, as famílias gradativamente vão receber [as mudas]."

Ceará - Selo Município Verde


39 cidades recebem Selo Município Verde


Pelo cuidado com o meio ambiente, Conpam concede o selo Município Verde a 39 municípios do Estado. Eles foram premiados com verba extra


16.12.2011


Em um momento de reconhecimento pelo olhar cuidadoso dos gestores públicos ao meio ambiente, 39 prefeituras receberam o Selo Município Verde. Neste ano, 96 municípios participaram do prêmio. Promovida pelo Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), a premiação chega à 8ª edição comemorando bons resultados no gerenciamento de práticas ambientais pelo Ceará. 

“Fazemos um balanço muito positivo ao longo desses anos. Hoje, mais de 80% dos municípios já têm órgãos municipais, como o Condema (Conselho de Defesa do Meio Ambiente)”, avalia o presidente do Conpam, Paulo Henrique Lustosa. Segundo ele, o maior objetivo da premiação é apoiar e capacitar as cidades para uma participação efetiva na gestão de políticas ambientais.

A manutenção da biodiversidade local, a agroecologia e a educação ambiental são destaques no processo avaliativo das participantes, como explica o gestor ambiental do Conpam, Leorne Cavalcante. “Caucaia lidera a lista de vencedores pela capacidade de mobilização que vem apresentando. É importante estar atento não apenas às políticas públicas, mas à conscientização da populaçãoa”, justifica.

Também foi concedido o prêmio às localidades que se destacaram no Projeto Praia Limpa e a menção honrosa ao jovem embaixador climático Iranildo de Sousa, 17. “Busco integrar a juventude nessa responsabilidade”. As cidades receberam como prêmio repasse financeiro do Estado. “Não é mais possível dissociar o desenvolvimento com a preocupação ambiental”, disse o vice-prefeito de Caucaia, Paulo Guerra.

Além de Caucaia, as vencedoras foram Itaitinga, Barreira, Cruz, Maracanaú, Crateús, Pacoti, Sobral, Novo Oriente, Maranguape, Piquet Carneiro, Bela Cruz, Missão Velha, Crato, Itarema, Icapuí, Fortaleza, Quixeramobim, Eusébio, Acaraú, Tauá, Campos Sales, Brejo Santo,Morada Nova, Lavras da Mangabeira, Iguatu, Jijoca de Jericoacoara, Massapê, Juazeiro do Norte, Croatá, General Sampaio, Várzea Alegre, Farias Brito, Jaguaruana, Acopiara, Jaguaribe, Tabuleiro do Norte, Ocara e Apuiarés.

Quando

ENTENDA A NOTÍCIA
Ontem à noite, ocorreu a premiação do selo Município Verde, promovido pelo Conpam. Ao todo, 39 municípios tiveram iniciativas reconhecidas. Além do prêmio, Caucaia se destacou no Projeto Praia Limpa.

Sara Rebeca Aguiar
sararebeca@opovo.com.br


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

DISCURSO PROFERIDO NA CERIMÔNIA DE COLAÇÃO DE GRAU DOS CONCLUDENTES DE 2011.2 NO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ NO CARIRI


Suely Salgueiro Chacon – Representante do Corpo Docente

Nesse momento em que celebramos um ritual de passagem, inicio agradecendo pela oportunidade de falar aos nossos concludentes, aos seus familiares e a toda a comunidade acadêmica aqui hoje reunida. Embora tenha sido indicada pelos formandos do curso de Administração, sinto-me ligada não somente aos novos Administradores, mas também a cada um dos novos Agrônomos, Biblioteonomistas, Engenheiros Civis, Filósofos e Médicos.  Não apenas porque fui professora de muitos de vocês, mas porque me sinto profundamente ligada ao Campus da UFC no Cariri, e a todo o processo de formação que resulta nesse momento simbólico, quando vocês deixam de ser alunos e se tornam profissionais.

Fazer parte dessa construção coletiva que é a Universidade é um privilégio, especialmente quando estamos aqui, no interior do Brasil, no interior do Ceará, no meio do Sertão. Estamos construindo aqui, nesse espaço, mais do que saberes, estamos construindo uma nova história. Ultrapassamos o discurso e pusemos em prática o que por décadas parecia utopia. A Universidade chega ao interior não apenas para trazer conhecimentos técnicos e científicos, ela chega aqui para incluir, para permitir que todos tenham a chance real de mudar sua vida, sua história, de suas famílias, de suas comunidades. Antes de formar novos profissionais, a nossa Universidade forma pessoas. Pessoas prenhes de sonhos, de confiança, que olham para sua terra e sentem orgulho de fazer parte desse lugar. A auto-estima, por anos destruída sistematicamente pela exclusão desse espaço do processo de desenvolvimento do país, volta a crescer e se fortalecer. Hoje vocês, queridos formandos, são a prova para suas famílias e para toda a sociedade, de que só precisavam de uma pequena chance para mostrar que são capazes de realizar proezas que antes pareciam reservadas apenas para poucos privilegiados que estavam nos grandes centros.

Essa cerimônia de hoje é um marco na vida de vocês, e representa mais que a conclusão de um curso de graduação. É o início de uma nova caminhada na vida de cada um, permeada pela busca da construção de suas identidades, pela consolidação de suas escolhas pessoais, e pela efetiva participação no processo de desenvolvimento do nosso país.

Nesse sentido, esse momento representa para todos nós que fazemos o Campus da UFC no Cariri, mais um passo no caminho que escolhemos trilhar, e que nos permite realizar o que eu considero a verdadeira revolução, que é dá acesso, ao maior números de pessoas possível, à uma educação de qualidade, inclusiva, crítica, empoderadora e transformadora da realidade. Sem armas, sem conflitos, nós estamos destruindo juntos e sistematicamente um muro de opressão e de exclusão que segregou por décadas parte da população desse país, condenando a grande maioria a sobreviver sem qualquer perspectiva de uma vida digna. A conquista de cada um de vocês é a conquista de todos nós, e de cada um dos habitantes dessa região.

Amartya Sen, um dos criadores do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, nos diz que o desenvolvimento só ocorre se as pessoas são livres. E para que essa liberdade efetivamente exista na vida das pessoas, elas precisam ter acesso a condições mínimas, que as permitam escolher. Assim, pouco adianta se dissermos que os índices econômicos de nosso país e nossa região são cada vez melhores, isto não significa desenvolvimento, muito menos inclusão social. Significa apenas crescimento econômico, muitas vezes restrito a poucos. Foi esta a nossa história por muitos anos. Para que haja desenvolvimento é preciso mais que crescimento econômico, é preciso que as pessoas se beneficiem de forma igualitária do resultado desse crescimento, que tenham acesso a uma vida digna, que a natureza seja respeitada e as instituições da sociedade fortalecidas. Mas para que isto aconteça, é necessária uma base forte: o acesso ao conhecimento. O acesso à educação transformadora é essencial. Somente nesses termos podemos falar de desenvolvimento.

Assim, a inclusão gerada pela expansão do ensino superior no Brasil é um passo fundamental nesse processo de desenvolvimento que estamos ainda gestando, e pode gerar transformações profundas na vida de todos nós e de nossos filhos e netos. Conscientes de nosso papel nessa construção, assumimos a responsabilidade e o compromisso de promover nesse espaço de troca de saberes, não apenas a formação profissional, mas também a formação de pessoas. De seres humanos capazes de perceber que sem o devido cuidado com o seu semelhante e com a natureza, não alcançamos o desenvolvimento, ficamos apenas no crescimento econômico excludente.

Cada um dos novos profissionais que hoje se apresentam à sociedade é um agente de transformação, produtor de ideias e ideais que se materializarão no seu trabalho e nas suas escolhas. Muitos de vocês terão oportunidade de escolher: reproduzir a exclusão ou fortalecer a revolução que inclui.

Vocês, caros formandos, iniciam sua cainhada em um cenário promissor. Isto significa muitas oportunidades, mas também mais responsabilidades. Há menos de dez anos, quando o curso de medicina se instalou aqui, não se poderia prever esse cenário positivo. A realidade ainda era de incertezas, de poucas chances, mesmo para quem se graduava. A maioria de vocês teve acesso a diversos benefícios durante o curso, pode participar de atividades de pesquisa, de extensão, de viajar para congressos, de conviver em um espaço físico novo, com equipamentos modernos em laboratórios e salas de aula. Conviveram com professores qualificados e tiveram oportunidades de assistir a inúmeras palestras em eventos nacionais e até internacionais realizados aqui mesmo, no nosso lugar. Embora muitos insistam em enfatizar o que ainda falta, é possível perceber o grande avanço que já produzimos. Hoje, menos de seis anos da instalação do Campus do Cariri, que veio se juntar ao curso de Medicina, esse avanço se retrata na nota cinco no ENADE, alcançada pelo curso de medicina, na seleção de alguns para excelentes cursos de pós-graduação, com bolsa de estudos garantida, e nas várias ofertas de empregos para grande maioria. Vocês podem escolher os seus próximos passos. Tudo isto é fruto de uma conjuntura favorável, que trouxe oportunidades para todos. Cabe a vocês fortalecer e amadurecer esse processo.

Um cenário tão promissor não pode levar a acomodação, deve instigar todos a ousar. Ousar descobrir novas possibilidades para a profissão, ousar defender uma atuação baseada respeito à diversidade e ao meio ambiente, ousar na busca pela sustentabilidade da nossa região e do nosso país, pensando no atendimento das necessidades da nossa geração e das que vem por aí. Ousar admitir que nenhuma ciência é dona da verdade, por isto precisamos aprender todos os dias com os nossos colegas de outras aéreas, ousar olhar o outro como seu semelhante e não como um competidor. Ousar acreditar que somos melhores quando somos capazes de construir juntos uma nova realidade e dizer não à destruição das relações humanas em prol da ilusão do consumo e da acumulação. Ousar ser humano, antes de ser um profissional. Cuidar do Outro em um sentido amplo é a base da ética que vocês devem levar com vocês.

Exerçam suas escolhas com serenidade e intensidade. Serenidade para tomar decisões corretas e intensidade para abraçar os sonhos e ousar. Estejam prontos para surpresas e disponíveis para descobertas. Isto levará você aonde vocês quiserem ir. Repito: não é momento de acomodação, mas de ser protagonista de um novo tempo.

Diante de tantas possibilidades que esse tempo atual disponibiliza para vocês, quero enfatizar mais uma vez que a postura de cada um, as escolhas de cada um, é que irão garantir que alcancemos um patamar real de desenvolvimento. Para isto, não podemos confundir a sociedade com o mercado, ou a felicidade com o consumo e acumulação, nem o reconhecimento profissional com vaidades ou cargos efêmeros.

Parabenizo a cada um de vocês, não apenas pela conclusão do curso, mas por representarem a mudança, por provarem que é possível fazer o sonho acontecer. Cada um de vocês hoje redime um pouco todos os sertanejos que tiveram que ir embora de sua terra, que morreram nas secas, que se humilharam pedindo esmolas, que deixaram de acreditar em sua própria importância como ser humano.

Agradeço a vocês por me permitirem por em prática tudo que escrevi por anos, defendendo a inclusão de todos no processo de desenvolvimento. Vir para cá, no caminho inverso que fizeram meus avós, tios e pais, foi a melhor escolha que fiz na vida, porque me proporcionou a felicidade de conhecer vocês.

Desejo a todos muito sucesso e todas alegrias que cada um de vocês merecem. Sejam sementes da revolução por onde quer que seus caminhos os levem.

sábado, 26 de novembro de 2011

Rio+20 - Economia Verde e Inclusão


Governo brasileiro lança documento que sintetiza a contribuição do país para as discussões da Rio+20

Publicado em novembro 24, 2011 por 
Texto defende ‘economia verde inclusiva’, apresenta iniciativas brasileiras como exemplo e praticamente não trata da área da Saúde.

O governo brasileiro lançou, na semana passada, um documento de 37 páginas que sintetiza a contribuição do país para as discussões da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que acontecerá no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de junho de 2012. Elaborado pelos ministérios do Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e das Relações Exteriores, submetido à consulta pública e à colaboração de outros ministérios, o texto traz oito propostas, algumas delas subdivididas, e muitas baseadas em experiências brasileiras.
A ideia de um ‘Programa de Proteção Socioambiental Global’, por exemplo, enfoca a superação da pobreza extrema, apostando no “componente social”. Para isso, cita iniciativas brasileiras como o ‘Minha casa, minha vida’, ‘Bolsa Família’ e ‘Brasil sem Miséria’. “O objetivo do programa é alcançar um patamar em que a qualidade de vida e condições ambientais sejam incorporadas integralmente aos direitos das populações pobres”, diz o texto. Para Alexandre Pessoa, pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) que vem acompanhando as discussões da Rio+20, um dos problemas dessa proposta é que, ao recuperar a questão social, ainda se trabalha com a ideia de segurança alimentar — que calcula uma cota mínima diária de alimentos para as populações — e não com um conceito que ele considera mais adequado e atual, que é o da soberania alimentar — que leva em conta o direito dos povos à autogestão de sua produção e cultura alimentar. “Quando falamos em soberania alimentar, estamos considerando os diferentes papéis que os países ocupam na divisão internacional do trabalho e do comércio no que diz respeito à produção agrícola, por exemplo. Além disso, o enfrentamento dos agrotóxicos enquanto uma questão de saúde pública deveria ser explicitado nessa parte do documento”, avalia.
Para o pesquisador, outro problema das propostas do governo brasileiro é exatamente não demarcar a diferença dos impactos socioambientais nos países ricos e pobres. A proposta de criação de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — que seguiriam os moldes dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio —, por exemplo, defende que eles deveriam ter “caráter global, voltados igualmente a países desenvolvidos e em desenvolvimento”. O assessor extraordinário do Ministério do Meio Ambiente para a Rio + 20, Fernando Lyrio, também destaca a importância de se dar peso distinto aos países.  “Vinte anos depois, o legado da Rio-92, com a Declaração do Rio e seus 27 Princípios, permanece atual, em particular o princípio de ‘responsabilidades comuns, porém diferenciadas’, segundo o qual os países desenvolvidos devem tomar a dianteira nos desafios do desenvolvimento sustentável, tendo em vista sua responsabilidade histórica pelo uso insustentável dos recursos naturais globais. Os Princípios do Rio incluem a necessidade de que os países desenvolvidos mantenham oferta adequada de recursos financeiros e de transferência de tecnologia, de modo a auxiliar os países em desenvolvimento a alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável”, explica. Ele, no entanto, não acha que isso esteja ausente do documento brasileiro.
Outra proposta contida no documento é a construção de um ‘pacto global para produção e consumo sustentáveis’, que envolve três ações: uma política de compras públicas sustentáveis; programas de “etiquetagem de consumo e eficiência energética”; e o financiamento de pesquisas voltadas para o desenvolvimento sustentável. Para Guilherme Franco Netto, coordenador geral de Vigilância Ambiental em Saúde do Ministério da Saúde, esse é um dos pontos do documento que tem relação mais direta na área da saúde. “Se as compras públicas forem mais ambiental e sustentavelmente adequadas, isso vai implicar benefícios para a saúde”, acredita, lembrando que, no Brasil, só recentemente, na gestão do ministro José Gomes Temporão, foi proibido, por portaria, que o ministério da saúde adquirisse material que contivesse amianto, substância cancerígena. Alexandre Pessoa, no entanto, identifica nessa proposta um enfoque que aponta soluções individuais para os problemas ambientais. Segundo ele, isso aparece sobretudo no item que trata da classificação do consumo que, de acordo com o documento, “possibilita a agentes privados, notadamente os consumidores, avaliar e otimizar o consumo de energia/combustível dos equipamentos, selecionar produtos de maior eficiência em relação ao consumo e melhor utilizar os equipamentos, possibilitando economia nos custos de energia”. Essa individualização dos problemas e das soluções é, aliás, uma das principais críticas que especialistas e integrantes de movimentos sociais têm feito à ideia de economia verde , que está presente em todo o documento do governo brasileiro.
Fernando Lyrio, no entanto, ressalta que a contribuição brasileira está centrada numa ideia de “economia verde inclusiva”, que, ao contrário de uma concepção individualizante, enfocaria uma mudança nos padrões de desenvolvimento. “Na visão brasileira o conceito de ‘economia verde inclusiva’ expressaria melhor o foco num ciclo de desenvolvimento sustentável com a incorporação de bilhões de pessoas à economia, com consumo de bens e serviços em padrões sustentáveis e viáveis, que combatam o desperdício e promovam o reaproveitamento dos recursos. E a Rio +20 representa uma oportunidade para a revisão dos atuais padrões de desenvolvimento, sobretudo, à luz da insuficiência de seus resultados econômicos, sociais e ambientais”, explica, fazendo uma ressalva: “Para tanto, é preciso reforçar a ligação do conceito de economia verde com o de desenvolvimento sustentável, de forma a evitar uma leitura do conceito de economia verde que privilegie os aspectos de comercialização de soluções tecnológicas sobre a busca de soluções adaptadas às realidades variadas dos países em desenvolvimento”.
A ideia de economia verde inclusiva está presente de forma explícita no documento, inclusive como proposta. Trata-se da ideia de se estabelecer um pacto que inclua a publicização dos relatórios de sustentabilidade das empresas e a criação de índices de sustentabilidade. O texto traz como exemplo o índice de Sustentabilidade Empresarial, criado pela Bovespa. “Por esse índice, considera-se um investimento como socialmente responsável se, além dos resultados financeiros para o investidor, há considerações ambientais, práticas de responsabilidade social e padrões éticos para selecionar as empresas participantes dos fundos de investimento”, explica Fernando Lyrio. Criticando o que classifica como um processo de financeirização dos problemas ambientais, que transforma as obrigações das empresas em lucro, Alexandre Pessoa não acredita na eficácia desse tipo de ‘certificação’. Ele lembra o exemplo do complexo siderúrgico ThyssenKrupp CSA, no Rio de Janeiro, que, apesar de responder a diversas denúncias e ações  do Ministério Público Estadual, por poluição e danos à saúde da população, recebeu ‘sinal verde’ do Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, da Organização das Nações Unidas, para obtenção de créditos de carbono.
Na mesma linha, o documento propõe também que se firme um protocolo internacional para a sustentabilidade do setor financeiro, tomando como exemplo o ‘Protocolo Verde’, iniciativa dos bancos públicos e privados brasileiros, que, de acordo com o texto, “assumiram o compromisso de incluir a dimensão ambiental nos seus procedimentos de análise de risco e avaliação de projetos, bem como priorizar ações de apoio ao desenvolvimento sustentável”.
Balanço de duas décadas
Um dos problemas que Alexandre Pessoa identifica na forma como está sendo organizada a Rio+20 e que, segundo ele, o documento elaborado pelo governo brasileiro reitera, é não fazer nem propor um balanço dos problemas e dos avanços da questão ambiental nos 20 anos que separam a Rio 92 do evento que vai acontecer em 2012. “Afinal, são poucas as experiências exitosas na efetivação da Agenda 21 Local”, opina. Ele considera, inclusive , que o documento é um recuo em relação à Agenda 21 , conjunto de propostas  que resultaram da Rio 92. Fernando Lyrio defende o documento: “As propostas apresentadas na Contribuição Brasileira alinham-se com temas da Agenda 21, abrangendo não somente a gestão e conservação dos recursos naturais, como também as dimensões social e econômica, e formas de implementação. Dessa forma, as propostas brasileiras visam tanto temas da Agenda Ambiental já presentes na Agenda 21 quanto temas dos novos desafios ambientais”, diz. Ele exemplifica: “O capítulo 3 da Agenda 21 já tratava do combate à pobreza como fundamental para a sustentabilidade do planeta, o que se alinha plenamente com a proposta da Rio +20 de discutir ‘economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza’ e, nesse contexto, com a Proposta 1, de estabelecer um ‘Programa de Proteção Socioambiental Global’”.
Saúde na Rio + 20
Embora o Ministério da Saúde tenha colaborado com o documento brasileiro após a consulta pública, nenhuma proposta apresentada diz respeito diretamente à área da Saúde. Além das compras públicas sustentáveis, Guilherme Franco Netto acredita que, a partir da experiência dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, a Saúde pode contribuir com indicadores relevantes, por exemplo, para materializar a proposta de criação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. “A questão da saúde do trabalhador, por exemplo, precisa ser tratada de forma melhor. Temos ainda, mesmo nos países desenvolvidos, mas sobretudo naqueles em desenvolvimento, estatísticas inaceitáveis relativas a mortes por acidente de trabalho. Temos tecnologia de ponta, que reduz isso porque mecaniciza tudo, mas, ao mesmo tempo, temos vários processos de extração mineral ou de construção civil no Brasil que se dão ainda no ritmo daquela música do Chico Buarque: ‘morreu na contramão atrapalhando o tráfego’”, exemplifica.
Também está ausente do documento qualquer discussão que relacione a questão ambiental e o perfil epidemiológico brasileiro. “Conseguimos fazer uma referência à mudança do quadro epidemiológico, mas muito superficialmente”, admite Guilherme. No que diz respeito ao Brasil, a Agenda 21 e a discussão da Rio 92 deu destaque às doenças ditas negligenciadas. Hoje, esse problema persiste, mas, segundo Guilherme, o quadro precisa ser ampliado. “Temos a maior urbanização do mundo: nenhum país das dimensões do Brasil teve o volume de urbanização que nós realizamos nos últimos 30 anos, com tendência de crescer ainda mais. E não temos um sistema básico de transporte decente, nosso esquema de relações de trabalho é precário, vivemos um monopólio ou controle absurdo das grandes indústrias farmacêuticas e de alimentos — agora agravada pela questão dos agrotóxicos. Isso acaba criando um cenário de vulnerabilidade e risco. E vamos pagar o preço disso”, alerta.
Outro problema, identificado pelo próprio Guilherme, é que o SUS não aparece no documento como exemplo de política exitosa relacionada ao tema da Conferência. “É até meio contraditório o fato de o SUS enquanto política universalista e seus avanços não entrar e outras políticas públicas de outras áreas serem citadas”, admite. E justifica: “Este é um documento que chama para o debate, não é homogêneo nem completamente acabado”.
Ele acredita, no entanto, que tudo isso será resolvido no documento que está sendo elaborado especificamente para a área da saúde. O Ministério da Saúde está à frente desse processo, mas pretende fazer um debate amplo. “Vamos pegar um pouco dos ensaios que nos interessam desse documento oficial do Brasil para fazermos uma análise. Faremos uma introdução sobre o valor de um modelo universalizante como é o SUS, destacando o quanto avançamos do ponto de vista da redução das iniquidades no país. Vamos fazer uma retrospectiva do que era a saúde na época da Rio 92, com um balanço de como estamos hoje e os desafios que temos para frente”, detalha. Segundo ele, os avanços foram muitos. “Precisamos lembrar que o SUS foi instituído efetivamente em 1991, portanto, apenas um ano antes da Rio 92. Naquela época, nós tínhamos 3% de cobertura de atenção básica no país, hoje estamos com 61%, cobrindo mais de 100 milhões de pessoas, tivemos uma importante redução da mortalidade infantil… Esses são fatos que precisamos explicitar, ao mesmo tempo em que devemos apontar nossos desafios”, diz.
Guilherme conta que já participou de duas atividades relativas à área da saúde na Rio + 20. Uma foi uma iniciativa da Organização Pan-americana da Saúde (Opas), que fez uma consulta aos países da região das Américas para a realização de um debate que gere um documento regional sobre a área da  saúde na Rio + 20. Outra foi uma roda de conversa no Congresso Brasileiro de Epidemiologia, da Abrasco, também sobre como a saúde deve se preparar para a Conferência. O Ministério vai realizar ainda um grande seminário em abril de 2012 para, já com o documento pronto, aprofundar essa questão. Além disso, o ministério vai propor à Organização Mundial da Saúde (OMS), na próxima assembleia mundial da saúde, que o tema Rio+20 seja objeto de uma resolução e que sejam realizados alguns eventos da saúde durante a Conferência. “Estamos montando essa grade, abrindo cada vez mais o debate, para que tenhamos mais precisão sobre qual o projeto da saúde. Vale dizer que tudo que foi feito na saúde até agora foi na contra-hegemonia porque, no fundo, essa agenda entrou de modo muito tangencial na Rio 92. Tomara que inclusive a crítica dos movimentos sociais possa nos ajudar a conquistar um pouco mais de propriedade para fazermos a saúde dialogar com essa agenda”, diz.
Guilherme acredita que  o documento oficial lançado pelo governo brasileiro também pode ajudar nessa busca de espaço para as discussões relacionadas à área da saúde na Conferência. Isso porque, como ele destaca, o texto afirma que a Rio+20 não é apenas uma conferência de meio ambiente. “Há uma disputa importante, principalmente entre a área econômica e a área ambiental sobre quem vai ter a hegemonia desse processo”, identifica. Mas completa: “O Brasil está dizendo que o desenvolvimento sustentável se baseia num tripé em que os elementos precisam estar no mesmo nível: o social, o econômico e o ambiental”.
Outras propostas
As outras propostas concretas apresentadas pelo documento são a criação de um repositório de iniciativas, que tornem públicas práticas e tecnologias relacionadas ao desenvolvimento sustentável; a criação de novos indicadores para mensuração do desenvolvimento, a partir da compreensão de que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e o PIB (Produto Interno Bruto) não são suficientes; e a criação e fortalecimento de uma estrutura institucional do desenvolvimento sustentável, que se subdivide em seis ações: “criação de um mecanismo permanente de coordenação de alto nível entre todas as instituições internacionais que lidam com o desenvolvimento”; a transformação do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas em Conselho de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas; estabelecimento da participação universal e de contribuições obrigatórias para o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma); o lançamento de um processo negociador para uma convenção global sobre acesso à informação, participação pública na tomada de decisões e acesso à justiça em temas ambientais; a participação de atores não-governamentais nos processos multilaterais; e a governança da água, que trata do fortalecimento do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos da ONU.
Reportagem de Cátia Guimarães, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz).
EcoDebate, 24/11/2011
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